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A DESCOBERTA DO “EU” LEITOR

Atualizado: 30 de set.


Mariana Gardin Machado, 22 de maio de 2025


|Um dos nossos maiores desejos é que as crianças gostem de ler. Mas será que temos proporcionado o espaço e as vivências necessárias para que isso aconteça?


Ansiamos pelo momento em que as crianças se encantarão com o mundo dos livros, indo além das leituras curriculares, e mergulharão em universos diferentes, onde há criaturas fantasiosas, mistérios a serem desvendados e batalhas épicas. Mas também desejamos que encontrem, nas páginas, histórias de pessoas comuns, com desafios que elas possam estar enfrentando. 


A descoberta do “eu leitor" refere-se ao processo de autoconhecimento do indivíduo em relação às suas preferências de leitura. É o momento em que a pessoa percebe sua identidade como leitor, identificando os gêneros literários que mais lhe interessam, bem como seus hábitos de leitura e como ler influencia seu pensamento e visão de mundo. Esse processo é essencial para o desenvolvimento de uma relação mais profunda e significativa com os textos, além de aprimorar habilidades de interpretação e análise crítica.


Perceber-se como um “ser leitor” em um mundo letrado é um marco muito importante e que se desenvolve ao longo da vida. Por meio desse entendimento, a criança descobre que pode buscar nos livros vivências e experiencias das mais diversas, sem ao menos sair de casa. 


“É para isso que servem os livros. Para viajar sem sair do lugar.” - Jhumpa Lahiri


Mas para isso ocorrer, as crianças precisam ter experiências reais com os livros. E isso inclui refletir: “estou gostando da história ou não? Leria uma história parecida com essa?” Essa análise não apenas fortalece o pensamento crítico, mas também promove o autoconhecimento, ajudando-as a entender melhor seus gostos e interesses. 


Em nossa trajetória de “ser leitor” é natural, e até necessário, sentir a frustração de não gostar de uma história e pensar: “Poderia ter escolhido um livro melhor”. Essas experiências, ainda que negativas, levam às crianças a entenderem e reconhecerem quais gêneros e estilos de livros elas gostam, contribuindo para a formação de uma identidade leitora. 


Sou a favor da ideia de interromper as leituras lúdicas (que estão fora do currículo escolar) pela metade, ou até antes disso. Afinal, se a leitura já está desagradável, como ela poderia, então, despertar prazer? Perceber que eu não gostei da narrativa, que não me conectei com a história é uma forma de se reconhecer como um “ser leitor”, que como “ser”, tem gostos e preferências, que devem ser descobertos e desbravados. 


Na minha vivência clínica, é muito comum os pais me falarem: “Fulano está lendo, mas só quer saber de ler O Diário de um Banana. Mas livro de verdade, ele nem chega perto…”, mas o que é um “livro de verdade”? 


Imagine a história de João. Sua mãe adora a literatura clássica e tudo aquilo que foge desse tipo de livro não presta. No entanto, João não suporta os clássicos. Com o passar do tempo, como você acha que será a relação de João com a leitura? Será algo prazeroso? Provavelmente não. 

Essa é a realidade de muitas crianças. Por vezes elas não se sentem livres para ler o que gostam. Pode ser que não gostem de ler os livros de certa forma “impostos” para elas. E está tudo bem!


“Experiências positivas da infância com os livros estão associadas à leitura posterior.” - Daniel T.Willingham 


Agora, como podemos orientar os pais/responsáveis para serem facilitadores dessas experiências leitoras?

  • Ao visitar uma livraria ou biblioteca, deixe que as crianças explorem o ambiente

  • Busque livros com elas, deixe-as participar e ter voz nessa escolha

  • Permita com que elas experienciem os primeiros capítulos de um livro, antes de continuar ou não a história

  • Incentive com que a criança entre em contato com diferentes tipos de livros, como fantasia, mistério, romance, poesia, entre outras


E você? Como está o desenvolvimento do seu “ser leitor”? Que tal separar um momento na sua agenda, mesmo que seja breve, para se descobrir ou se redescobrir como um “ser leitor”? Permita-se alimentar a mente com novas ideias, pensamentos e sentimentos. Que essa vivência seja um transbordar para as crianças, levando para elas o poder transformador dos livros. 


 
 
 

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